MacGyver brasileiro

Quem ainda era criança no fim da década de 80 talvez desconheça o herói de uma geração norte-americana que se recusava a portar armas de fogo, mesmo não tendo super-poderes: seu nome era MacGyver. Ex-agente secreto formado em Física, o personagem criava bombas com gomas de mascar, construía celulares com cadarços de tênis e grampo de cabelo e salvou o mundo dezenas de vezes portando apenas um canivete suíço e um clipe para papel.

Eis que a ficção virou realidade e, desde o dia 23 de junho, temos a versão nacional desse gênio do improviso! Pelo menos é o que indica a Polícia Federal (PF) em sua versão sobre o sumiço de 300 gramas de cocaína de uma delegacia no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

De acordo com a PF, um suposto traficante havia sido preso por carregar a citada quantia de droga em uma mala e transportá-la num ônibus na rodovia Presidente Dutra. O acusado foi levado à delegacia para passar a noite encarcerado e ser transferido na manhã seguinte. Pelo menos era esse o plano.

No entanto, o MacGyver brasileiro resolveu a situação ainda durante a noite. Fez uma corda com os cobertores que possuía, amarrou um dos sapatos na ponta e, de dentro da cela, “pescou” a mala com os entorpecentes, que estavam em uma mesa a três metros de distância. Tudo isso no escuro e sem chamar a atenção dos policiais! E, para concluir sua empreitada, o rapaz jogou toda a cocaína dentro do vaso sanitário e puxou a descarga.

Infelizmente o incrédulo Ministério Público de São Paulo classificou o caso como “escabroso” e enviou uma cópia do processo para a Procuradoria da República e para a Corregedoria da Polícia Federal, com o intuito de investigar os agentes envolvidos. Eles duvidam da façanha realizada por nosso gênio do “MacGyverismo”.

Como a droga sumiu, o processo está arquivado por falta de provas, o suposto traficante foi libertado e seu nome foi mantido em sigilo para o andamento da (fútil) investigação relacionada ao sumiço da cocaína. Que desperdício! Se soubesse quem é o MacGyver brasileiro, além de pedir-lhe um autógrafo, perguntaria algo que tanto me aflige: por que, em vez de reaver a droga, ele simplesmente não pegou a chave da cela, se libertou e sumiu fingindo que nada tinha acontecido? Seria muito mais emocionante! Imagina a desculpa maluca que os policiais seriam obrigados a inventar!

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Crônica baseada na matéria “Cocaína apreendida em Guarulhos some de delegacia”, publicada no canal de vídeos Band News em 24/06/2010.

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